quinta-feira, novembro 15, 2012

Uma capela para adoração

Localizada no Centro Histórico da cidade de Belém(PA), a Igreja das Mercês, na forma como é vista hoje, foi inaugurada em 1763. Durante algum tempo, teve seu projeto ligado, equivocadamente, a Antônio Landi, o arquiteto italiano que na cidade viveu na segunda metade do século XVIII. Essa atribuição de autoria foi feita por Robert Smith, o historiador americano especialista em arte portuguesa, em um artigo escrito sobre Belém em 1951.
Isabel Mendonça (2003, p. 301), entretanto, diz ser “totalmente desajustada a atribuição desta igreja a Landi”. Para ela (2003, p. 539), a presença landiana estaria, possivelmente, no trabalho de talha do retábulo do altar-mor e no retábulo da Capela da Adoração. É possível também ver traços do arquiteto em alguns detalhes decorativos presentes no interior do templo como nas molduras de portas e janelas e nos púlpitos.
A Capela da Adoração foi, anteriormente, denominada Capela de Nossa Senhora da Encarnação e, hoje, é dedicada ao Coração de Jesus. Segundo Maria Amélia Morgado (2008, p. 43), foi uma capela mortuária ligada à sacristia.
Porta de entrada da Capela da Adoração
Foto: Domingos Oliveira, 2007

         A Capela, de pequenas dimensões, tem como destaque o retábulo localizado na parede oposta à porta de acesso, que é visto a seguir. A composição mostra elementos comuns à linguagem do arquiteto Landi, em particular, o frontão com traços mistilíneos e os trechos de frontões. Sob esses, uma linha de dentículos.
Altar da Capela da Adoração
Foto: Domingos Oliveira, 2011

         O nicho, central, é ladeado por um par de colunas destacadas de seção circular e um par de pilastras de seção retangular, todas com fuste estriado e capiteis jônicos, composições comuns aos trabalho landianos.
Detalhe do frontão do altar da Capela
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Corpo central do frontão com o Coração de Jesus entre raios 
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Detalhe superior do nicho do altar
Foto: Domingos Oliveira, 2011

         Os ornamentos existente nas laterais do retábulo seguem a mesma linguagem daqueles propostos para a Capela Sepulcral para o Governador Ataíde Teive, em Belém, e mostrados na figura a seguir.
Capela sepulcral para o Governador Ataíde Teive, Belém, Pará
Fonte: MENDONÇA, 2003, p. 485

Detalhe de ornatos vegetalistas e moldura ao lado do altar da Capela
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Detalhe de ornato vegetalista e moldura ao lado do altar da Capela
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Detalhe de ornatos pendentes e molduras ao lado do altar da Capela
Foto: Domingos Oliveira, 2011

         Os ornamentos pendentes que aparecem na lateral do retábulo, visto na imagem anterior, remetem a elementos semelhantes existentes na Capela Pombo, obra atribuída ao arquiteto Landi, como se vê na figura a seguir.
Detalhe de ornamento no interior da Capela Pombo
Foto: Domingos Oliveira, 2011

            Após um longo período fechada, a capela, hoje, está aberta à visitação.


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Fontes: 
MENDONÇA, Isabel Mayer Godinho. Antonio José Landi (1713-1791): um artista entre dois continentes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

MORGADO, Maria Amélia. Moldura Sacra: A talha da Igreja Nossa Senhora das Mercês do Pará, 2008. Monografia (Especialização) - Fórum Landi, FAU/UFPA, Belém, 2008.

OLIVEIRA, Domingos Sávio de Castro. O vocabulário ornamental de Antônio José Landi: um álbum de desenhos para o Grão Pará. 2011. 227 p. Dissertação (Mestrado em Artes). Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará, Belém, 2011.

quarta-feira, junho 20, 2012

Figura humana II


Outra forma humana utilizada nos ornamentos é aquela de uma cabeça feminina cercada por uma palmeta, um feixe de plumas ou tecidos pendentes lateralmente. Às vezes, aparece com orelhas de boi e lembra a deusa egípcia Hattor e, nesse caso, combinada com uma lua, ou outro símbolo noturno. É um motivo antigo, frequente no século XVI, e tem destaque maior no começo do XVIII, quando é conhecida como espanholete.
Elementos que lembram esse ornamento são encontrados em edificações em Belém.

Batistério da Igreja da Sé, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2010

Casarão na Rua Gaspar Viana, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Casarão na Rua 15 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Residência na Avenida Alcindo Cacela, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Para algumas crenças, os anjos são espíritos puros, assexuados, intermediários entre Deus e a humanidade. A partir da idade paleocristã, foram representados, em geral, como rapazes alados e com auréola luminosa e, no Renascimento italiano, também em forma de meninas. Cabeças de anjos com asas, cabeças de jovens com uma auréola, foram utilizadas, primeiramente, no estilo Bizantino. No Renascimento italiano, as figuras angelicais apareceram nos frisos e arcos, nos medalhões e nas molduras. Muitas vezes, ocorreram em túmulos e são muito utilizados na moderna decoração eclesiástica.

Detalhe de um retábulo na sacristia da Igreja de Santana, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2007

Detalhe do frontão de uma residência na Travessa Doutor Moraes, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Ainda a respeito do uso das figuras angelicais como ornamento ver os exemplos a seguir, no Cemitério da Soledade, no centro da cidade.
Cemitério da Soledade, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Cemitério da Soledade, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

A utilização de platibandas nas edificações de Belém, a partir do século XIX, propiciou a utilização de variados elementos ornamentais dentre eles as figuras humanas representadas em sua totalidade ou apenas sob a forma de bustos.
Bustos no frontão de uma residência na Rua 16 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Estátua sobre platibanda na Rua Senador Manoel Barata, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Estátua sobre platibanda na Rua Senador Manoel Barata, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Estátua sobre platibanda na Rua Santo Antônio, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011 
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Fontes:

MEYER, Franz Sales. A handbook of ornament. New York, The Architectural Book Publishing Company, 1920?. Disponível em:  http://ia331434.us.archive.org/1/items/handbookoforname1900meye/handbookoforname1900meye.pdf> Acesso em: 25 jul 2010.

OLIVEIRA, Domingos Sávio de Castro. O vocabulário ornamental de Antônio José Landi: um álbum de desenhos para o Grão Pará. 2011. 227 p. Dissertação (Mestrado em Artes). Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará, Belém, 2011.

segunda-feira, junho 18, 2012

Figura humana I


A figura humana foi, e é, o objeto favorito de representação na arte. Deuses, seres venerados, figuras da imaginação, são representados sob a forma humana. O corpo humano é, muitas vezes, representado sem qualquer significado e apenas decorativamente por conta da beleza da forma.
Essa postagem tem como objetivo trazer o que se tem nas fachadas, ou mesmo interiores, de algumas edificações de Belém quando o tema é a figura humana.

Desde que foi introduzida na decoração, a figura humana tem sido tratada de forma convencionada. Isso inclui o uso da face humana de forma mais ou menos fiel à natureza - as máscaras - ou com deformações - os mascarões -, estranhas combinações de formas humanas e formas de animais ou plantas.

A seguir, alguns exemplos de máscaras utilizadas de forma isolada, em sua maioria, nos arcos de portas e janelas de residências.
Exemplares de máscaras, respectivamente, nas ruas Gama Abreu, 16 de novembro
e Tomázia Perdigão, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Residência na Rua Senador Manoel Barata, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Residência na Tv. dos Tupinambás, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Residência na Avenida 16 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


A seguir, as máscaras em composições mais elaboradas.
Residência na Av. 16 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Prédio do Quartel General na Rua João Diogo, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Prédio do Quartel General na Rua João Diogo, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Residência na Travessa Quintino Bocaiúva, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Rua 15 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Rua 15 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Travessa São Francisco, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Travessa  São Francisco, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Rua 28 de setembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Avenida 16 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

O exemplo a seguir mostra o uso de mascarões: cabeças com expressões grotescas das quais brotam elementos vegetalistas.
Frontão de uma residência na Avenida 16 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Foi frequente, o uso da metade superior do corpo humano como ponto de partida do ornamento, ou combinada com animais, originando, por exemplo, esfinges e centauros.
Nas arquiteturas egípcia, persa, grega e romana é possível encontrar figuras humanas como apoios de vigas e telhados. Os nomes modernos - Cariátides e Atlantes - para tais suportes são derivados da Antiguidade. O nome Cariátide, por exemplo, para figuras de apoio femininas, é derivado da cidade de Caryae, no Peloponeso, ou segundo outra versão, imitações de virgens que dançavam no Templo de Caryse na festa de Diana. Sua introdução na arquitetura também pode ser devida ao fato de que as Senhoras de Caryae, como castigo pelo apoio que deram aos persas, foram obrigadas a servir como transportadoras de carga (MEYER, 1920, p. 241).
A Idade Média fez pouco uso de Atlantes e Cariátides; a Renascença e os estilos seguintes, ao contrário, usaram-nos livremente, isolados ou conectados com paredes, em alto e baixo relevo.
Da arquitetura em Belém, inspirados nas Cariátides gregas, extraímos os dois exemplo a seguir, ambos utilizados como suportes de sacadas.

Av. Generalíssimo Deodoro, Nazaré, Belém , Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011


Av. Generalíssimo Deodoro, Nazaré, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Figuras que lembram atlantes reduzidos, Travessa São Francisco, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

De um casarão localizado na área do Centro Histórico da cidade foi extraído o exemplo a seguir: uma espécie de sereia. Foi utilizada como arremate lateral de uma platibanda.
Platibanda de um casarão localizado na Rua Manoel Barata, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Uma sequência de figuras que lembram pequenos Atlantes formam a platibanda de um casarão no Centro Histórico de Belém.
Espécie de pequenos Atlantes, na Rua 15 de novembro, Belém, Pará
Foto: Domingos Oliveira, 2011
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Fontes:


MEYER, Franz Sales. A handbook of ornament. New York, The Architectural Book Publishing Company, 1920?. Disponível em:  http://ia331434.us.archive.org/1/items/handbookoforname1900meye/handbookoforname1900meye.pdf> Acesso em: 25 jul 2010.

OLIVEIRA, Domingos Sávio de Castro. O vocabulário ornamental de Antônio José Landi: um álbum de desenhos para o Grão Pará. 2011. 227 p. Dissertação (Mestrado em Artes). Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará, Belém, 2011.


terça-feira, abril 03, 2012

A Capela da Ordem Terceira do Carmo

Em tempos de Semana Santa, trazemos, nessa postagem, a Capela da Ordem Terceira do Carmo, em Belém, seguindo a tradição, localizada ao lado da Igreja do Carmo.
Não há documentação com relação a seu projeto e sua construção, porém, segundo Mendonça (2003, p. 403), não há como negar o traço de Antônio Landi em sua configuração e em seus ornatos.
A linguagem ornamental traz muito do repertório do artista bolonhês. O retábulo-mor e os laterais mostram elementos que configuram os ornamentos presentes em sua obra. Vasos, florões, aconcheados, acantos estrangulados, grinaldas, volutas, encadeados, cartelas, capitéis em forma de placa com volutas convergentes, o frontão mistilíneo do retábulo-mor, o resplendor com a Pomba do Espírito Santo, entre outros elementos, só confirmam a presença do artista nessa ermida.
Nave da Capela da Ordem Terceira do Carmo, tendo, ao fundo, o altar-mor
Foto: Celso Roberto de Abreu Silva

A seguir, os retábulos localizados nas laterais da nave.
Obedecem sempre a mesma tipologia: frontão e peanha centralizada enquadrada para colocação da imagem. Os ornamentos recorrentes são vaso com flores no topo da composição, medalhão ao centro do frontão que é ladeado por vasos fogareu, volutas e pilastras ornadas com detalhes vegetalistas. As imagens de Jesus Cristo mostram passagens que atecedem à crucificação.
 
Ecce Homo, "Eis o homem!" (Jo 19, 5)
Fonte: Biblioteca Digital Fórum Landi
Bom Jesus da Pedra Fria (ou da Paciência)
 Fonte: Biblioteca Digital Fórum Landi
 Bom Jesus da Coluna
Fonte: Biblioteca Digital Fórum Landi
 Fonte: Biblioteca Digital Fórum Landi
 Fonte: Biblioteca Digital Fórum Landi
Bom Jesus dos Passos
Fonte: Biblioteca Digital Fórum Landi
Jesus Crucificado
Fonte: Biblioteca Digital Fórum Landi

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MENDONÇA, Isabel Mayer Godinho. Antonio José Landi (1713-1791): um artista entre dois continentes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

OLIVEIRA, Domingos Sávio de Castro. O vocabulário ornamental de Antônio José Landi: um álbum de desenhos para o Grão Pará. 2011. 227 p. Dissertação (Mestrado em Artes). Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará, Belém, 2011