terça-feira, agosto 09, 2011

A Pintura de Quadratura da Igreja de São João Batista

A quadratura - pintura em perspectiva ilusionista - existente na capela-mor da Igreja de São João Batista, na Cidade Velha, em Belém, faz parte do projeto desenvolvido pelo arquiteto italiano Antônio Landi para essa edificação, com forte inspiração na quadratura bolonhesa setecentista.
Juntamente com as existentes nos altares laterais da mesma igreja, são os únicos exemplares na técnica conhecidos no Pará. Apesar de que é possível também classificar como quadratura a pintura do altar-mor da Capela da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, exemplar ainda necessitando de ser estudado.
Estado atual da obra
Foto: Domingos Oliveira, 2011

A pequena ermida, considerada pelo historiador da arte Germain Bazin, uma jóia da arquitetura [1], foi construída na segunda metade do século XVIII.
Ao comparar com o desenho deixado pelo arquiteto e arquivado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, é possível perceber, pela ausência de maiores áreas de contrastes, o quanto foi perdido no que diz respeito aos efeitos de profundidade, sugeridos pelos vários planos que compõem a pintura.
Desenho para a pintura de quadratura do altar-mor, de Antônio Landi
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil

Esta postagem tem o propósito de olhar, em detalhes, a obra, recuperada em 1996, e que, durante muitos anos, esteve encoberta por um retábulo em estilo neogótico.
Altar-mor antes da reforma
Foto: José de Paula Machado e Nelson Monteiro

A profusão de ornamentos exige do observador uma atenção maior de tal forma a que os múltiplos detalhes sejam percebidos.
A pintura está dividida, horizontalmente, em três setores.
O setor superior, um frontão triangular, é coroado por uma cruz latina, com volutas que convergem em sua direção. Das volutas, partem guirlandas de flores e folhas em direção a outro par de volutas sobre o frontão triangular.
O corpo central possui uma pomba representando o Espírito Santo, no centro de um resplendor entre nuvens.
Lateralmente ao corpo central do retábulo, existem, em ambos os lados, espécie de aletas composta por volutas. Sobre a voluta inferior, há um vaso com flores.
Ladeando essa composição, há duas pilastras cujas bases são formadas por um conjunto de folhas de acanto sob a forma de um bulbo e capiteis constituídos de uma placa com volutas convergentes. O fuste da pilastra é decorado com elementos vegetalistas pendentes.
Ainda ladeando o conjunto, há outros pares de volutas compondo aletas, sendo a voluta inferior repousada sobre pedestal coberto com folhas de acanto.
Toda essa composição está executada em primeiro plano mas é possível vislumbrar outro plano além desse.
Detalhe do trecho superior do altar-mor
Foto: Domingos Oliveira, 2011
Lateralmente à composição do frontão, há parapeitos com sequência de balaústres. Esse detalhe reforça a profundidade da cena ao mostrar uma espécie de porta envidraçada que sugere outro plano.
Detalhe da balaustrada nas laterais do frontão do altar-mor
Foto: Domingos Oliveira, 2011

O segundo setor da composição tem, no centro, uma moldura, antes, suporte de uma tela, hoje, substituída por uma imagem de São João Batista. A moldura atual não possui os ornamentos do projeto de Landi, porém mantém o desenho da parte superior - arco ladeado por segmentos de retas. Aqui, chama a atenção, o detalhe geométrico dos cantos da base da moldura, tratamento que pode ser encontrado em outros trabalhos de Landi: a sobreposição de um quadrado aos cantos.
Detalhe do altar-mor com a imagem de São João Batista no espaço antes ocupado por uma tela
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Apoiam o frontão, duas colunas com capitel jônico, marcadas por espécie de cinta localizada a um terço da base. O fuste das colunas é estriado. Guirlandas de flores e folhas pedem das volutas dos capiteis.
Nas laterais do retábulo, na altura da imagem de João Batista, há vasos com flores sobre pedestais com elementos avolutados, em nichos vazados, que, mais uma vez, sugerem a profundidade ilusória da composição. Acima de cada um dos vasos, há uma cartela de aconcheados com uma cabeça no topo.
Detalhe do trecho lateral do altar-mor
Foto: Domingos Oliveira, 2011

A área correspondente à base da composição é simples e composta de figuras retangulares e quadrangulares pintadas na cor verde com molduras simples, ao contrário do desenho de Landi, que apresenta ornamentos como cartelas e elementos pendentes.
Nas paredes laterais da igreja, há um altar de cada lado como mostra o detalhe do desenho de Landi a seguir. No projeto, não há indicação de qualquer pintura para esses altares, apenas a moldura, aliás bem mais elaborada que a existente.
Detalhe do desenho da seção longitudinal da igreja
Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil

Estão presentes nas laterais, pinturas, bem mais simples que a do altar-mor, e que remetem a essa composição e apresentam características semelhantes, como a paleta de cores. Elementos ornamentais, como vasos e volutas, e o espaço emoldurado para telas estão presentes no conjunto.
Capela lateral da nave da igreja
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Detalhe do trecho superior de um dos altares laterais
Foto: Domingos Oliveira, 2011

Mais detalhes podem ser encontrados nesses três trabalhos landianos. Era nosso objetivo fazer uma análise dos ornamentos dos conjuntos de forma detalhada sem querer obviamente esgotar o assunto.
Para maiores detalhes sobre a Igreja de São João ler o artigo no link a seguir:  http://www.revistamuseu.com.br/naestrada/naestrada.asp?id=3947
__________________
[1] O autor [Germain Bazin] simpatiza-se [...] com a Igreja de São João, classificando-a de joyau d´architectur, est le chef d´oeuvre de Landi, a obra é citada no item 99 em MELLO Júnior, Donato. Bibliografia Comentada. In: Antonio José Landi, Arquiteto de Belém. Rio de Janeiro: 1972.


quinta-feira, agosto 04, 2011

Capela Pombo - o vídeo

Nesta postagem, um pequeno video feito recentemente na Capela Pombo, localizada no centro histórico de Belém, no Pará, e tema das duas postagens anteriores. O tempo passa e o monumento vai cada vez mais se deteriorando.
A trilha sonora faz parte do “Ritual da Sagrada e Real Ordem Militar de N. S. das Mercês, da Redenção dos Cativos, para uso dos frades da mesma ordem, residentes na Congregação do Pará, por mandado do R. P. Pregador Frei João da Veiga, Comendador da mesma ordem, na cidade do Pará”[1] escrito totalmente em latim.
A obra, impressa em Lisboa em 1770, por tanto tempo desconhecida, retornou ao conhecimento do Pará, pelo historiador Vicente Salles, em 1992. Contém exemplos do que se cantava nas principais festas realizadas no Grão-Pará pelos mercedários. Além das partituras, há regras de como cantar e celebrar os ofícios religiosos, conforme as leis canônicas, além de descrições minuciosas das festas e dos ritos. Seu compilador foi o cantochanista Frei João da Veiga.

[1] No original: Rituale/Sacri, Regalis, AC Militaris Ordinis/B.V.Mariæ de Mercede/Redemptionis Captivorum,/ad usum /fratrum ejusdem ordinis/in Congregatione Magni Paraensi commorantium,/Jussu/R.P.Prædicatoris Fr.Joannis da Veiga/in Civitate Paraensi ejusdem Ordinis Commendatoris ela-/boratum, & lucem editum./